A hormonioterapia em adolescente diagnosticado com disforia de gênero como reflexo do direito ao desenvolvimento da personalidade
Palavras-chave:
Autonomia, Adolescente, Disforia de gênero, Capacidade civil, DiscernimentoResumo
A legislação utiliza primordialmente o critério etário para modular a capacidade de exercício relativamente aos atos da vida civil e, consequentemente, a faculdade de decidir sobre assuntos de natureza patrimonial e existencial, indistintamente. Não obstante, há determinadas decisões que, por serem pertinentes ao desenvolvimento da personalidade e à construção da identidade, também são albergadas pelos direitos humanos e fundamentais, constituindo, ainda, escolhas indisponíveis e intransmissíveis. Atentando para isso, a pesquisa analisa a existência e os limites da autonomia do adolescente nos atos de disposição do próprio corpo e a sua tensão com a heteronomia do Estado e dos pais na dicção do que seja o seu melhor interesse. Compreende-se que o corpo integra a personalidade, constituindo interesse protegido no plano dos direitos humanos e fundamentais, de sorte que as decisões que impactem nessa seara não devem ser creditadas a terceiros. Analisa-se a possibilidade de exercício da autodeterminação corporal do adolescente diagnosticado com disforia de gênero (GD). Mais especificamente, aborda-se a relação entre corpo e autonomia, sustentando a terapia hormonal no tratamento de GD como um direito fundamental à saúde. Por fim, são analisadas as normas protetivas da adolescência atinentes à temática, no sentido de verificar que a negativa da hormonioterapia provoca uma lesão aos direitos da personalidade dos adolescentes diagnosticados com GD, por ser incompatível à demanda de proteção e cuidado de que são merecedores, na medida em que isso afeta o seu melhor interesse, sobretudo na seara existencial.
Downloads
Referências
BARBOZA, Heloísa Helena. Princípios da Bioética e do Biodireito. Revista Bioética, Brasília, v. 8, n. 2, p. 209-216, 2000. Disponível em: <http://www.revistabioetica.cfm .org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/276/275> . Acesso em: 20 jul. 2017.
BECERRA-FERNÁNDEZ, Antonio et al. Transexualidad y adolescencia. Revista Internancional de Andrologia, v. 8, n. 4, p. 165-171, 2010. Disponível em: <http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1698031X10700315?via=sd>. Acesso em: 23 abr. 2016.
BOCKTING, W. O.; GOLDBERG, J. M. Guidelines for transgender care (special issue). International Journal of Transgenderism, v. 9 (3/4). 2006.
BORBA, Rodrigo. O (Des)Aprendizado de si: transexualidades, interação e cuidado em saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2016.
BUTLER, Judith. Desdiagnosticando o gênero. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 95-126, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312009000100006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 maio 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 2.803 de 19 nov. 2013. Redefine e amplia o Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 2013. Seção 1, n. 226, p. 25-30.
CICCO, Maria Cristina de. Atos de disposição do próprio corpo entre autonomia e dignidade da pessoa humana. Civilistica.com, Rio de Janeiro, a. 2, n. 2, jul./dez. 2013.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa. Das necessidades humanas aos direitos. Ensaio de sociologia e filosofia do direito. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.
ISAY, Richard. Remove Gender Identity Disorder from DSM. Disponível em: <http://psychnews.org/pnews/97-11-21/isay.html.> Acesso em: 20 maio 2016.
KONDER, Carlos Nelson. O consentimento no biodireito: os casos dos transexuais e dos wannabes. Disponível em: <http://dc343.4shared.com/doc/FAH6pNlR/ preview.html>. 2012. Acesso em: 14 abr. 2016.
KONDER, Carlos Nelson; TEIXEIRA. Ana Carolina Brochado. Crianças e adolescentes na condição de pacientes médicos: desafios da ponderação entre autonomia e vulnerabilidade. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas, Fortaleza, v. 21, n. 1, p. 70-93, jan./abr. 2016. Disponível em: <http://ojs.unifor.br/index.php/rpen/article/viewFile/ 4185/pdf>. Acesso em: 20 maio 2016.
LE BRETON, David. A sociologia do corpo. 2. ed. tradução de Sonia M. S. Fuhrmann. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
LE BRETON, David. Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade. Campinas: Papirus, 2003.
LOURENÇO, Benito; QUEIROZ, Lígia Bruni. Crescimento e desenvolvimento puberal na adolescência. Revista de Medicina. v. 89, n. 2, abr.-jun./2010. p. 70-75.
MEIRELES, Rose Vencelau. Autonomia e dignidade humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p.125.
MENEZES, Joyceane Bezerra de. A família e o direito de personalidade: a cláusula geral de tutela na promoção da autonomia e da vida privada. In: MENEZES, Joyceane Bezerra de; MATOS, Ana Carla Harmatiuk Matos. (Org.). Direito das famílias por juristas brasileiras. São Paulo: Saraiva, 2013.
MENEZES, Joyceane Bezerra de; MULTEDO, Renata Vilela. A autonomia ético-existencial do adolescente nas decisões sobre o próprio corpo e a heteronomia dos pais e do Estado no Brasil. A&C – R. de Dir. Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 16, n. 63, p. 187-210, jan./mar. 2016.
MORAES, Maria Celina Bodin. O conceito da dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo normativo. In. SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Constituição, direitos fundamentais e direito privado. 2. ed., rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 107-149.
MORAES, Maria Celina Bodin. Uma aplicação do princípio da liberdade. In: MORAES, Maria Celina Bodin. Na medida da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2010, p. 183-206.
MORAES, Maria Celina Bodin. A família democrática. In: MORAES, Maria Celina Bodin de. Na medida da pessoa humana. Estudos de direito civil constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2016, p. 207-234.
MORAES, Maria Celina Bodin. A nova família, de novo – Estruturas e função das famílias contemporâneas. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas, Fortaleza, v. 18, n. 2, p. 587-628, maio/ago. 2013. Disponível em: <http://periodicos.unifor.br/rpen/article/view/2705/pdf>. Acesso em: 21 out. 2016.
MORAES, Maria Celina Bodin; CASTRO, Thamis Dalsenter Viveiros de. Autonomia existencial nos atos de disposição do próprio corpo. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas, Fortaleza, v. 19, n. 3, p. 779-818, set./dez. 2014. Disponível em: < http://periodicos.unifor.br/rpen/article/view/3433/pdf_1>. Acesso em: 21 out. 2016.
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil. Introdução ao direito civil constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.
RODOTÀ, Stefano. La vita e le regole: tra diritto e non diritto. Milano: Feltrinelli, 2006.
RODOTÀ, Stefano. Transformações do corpo. Trad. Maria Celina Bodin de Moraes. Revista Trimestral de Direito Civil – RTDC, Rio de Janeiro, ano 5, v. 19, jul./set., 2004.
RUBIO, Jose Maria Rubio y ESPINOSA, Maria del Trigo. Consentimiento informado. In: CUESTA, Antonio Ruiz de la. (Coordinador). Bioética y derechos humanos: implicaciones sociales y jurídicas. Secretariado de publicaciones. Universidad de Sevilla, 2005, p.131-142.
SAADEH, Alexandre. Disforia de gênero na infância e na adolescência. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/pdfs/eventos/eve_03102016_165833_Alexandre%20 Saadeh%20-%20Transexualidade%20-%20Na%20infancia%20e%20adolescencia.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2017.
SCHRAMM, Fermin Roland; VENTURA, Miriam. Limites e possibilidades do exercício da autonomia nas práticas terapêuticas de modificação corporal e alteração da identidade sexual. Physis Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 65-93, 2009.
SÊCO, Thaís Fernanda Tenório. Por uma nova hermenêutica do direito da criança e do adolescente. Civilistica.com, Rio de Janeiro, a. 3, n. 2, jul.-dez./2014. Disponível em: <http://civilistica.com/por-uma-nova-hermeneutica-do-direito-da-crianca-e-do-adolescente/>. Acesso em: 09 abr. 2016.
SÊCO, Thaís Fernanda Tenório. A autonomia da criança e do adolescente e suas fronteiras. Capacidade, família e direitos da personalidade. 2013. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013.
STANZIONE, Pasquale. Persona física Diritto Civile. In AUTORINO, Gabriela e STANZIONE, Pasquale. Diritto Civile e Situazione Esistenziali. Torino: G. Giappichelli, 1997.
STANZIONE, Pasquale e SCIANCALEPORE, Giovanni. Minore e diritti fondamentali. Milano: Giuffrè, 2006.
SUESS, Aimar. Análisis del panorama discursivo alrededor de la despatologización trans: processos de transformación de los marcos interpretativos em diferentes campos sociales. In: MISSÉ, Miquel; COLL-PLANAS, Gerard. (Org.). El Género Desordenado: críticas em torno a la patologización de la transexualidad. Madrid: Egales, 2010.
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. Família, guarda e autoridade parental. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. Saúde, corpo e autonomia privada. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. Integridade psíquica e capacidade de exercício. Revista Trimestral de Direito Civil – RTDC, Rio de Janeiro, v. 33, jan./mar. 2008. p. 3-36.
TEPEDINO, Gustavo. A disciplina civil-constitucional das relações familiares. In: TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
TEPEDINO, Gustavo. A disciplina da guarda e a autoridade parental na ordem civil-constitucional. Revista Trimestral de Direito Civil – RTDC, Rio de Janeiro, ano 5, v. 17, p. 33-49, jan./mar. 2004.
TRANSGÊNERO espera primeiro filho biológico nos EUA. O Povo. 13/07/2017. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2017/07/transgenero-espera-primeiro-filho-biologico-nos-eua.html.> Acesso em: 17 jul. 2017.
VIVEIROS DE CASTRO, Thamis Dalsenter. Bons costumes no direito civil brasileiro. São Paulo: Almedina, 2017.