A prática da eutanásia às margens da legislação: a lei condena e os jurados promovem a loteria jurídica

Autores

  • Igor de Lucena Mascarenhas UNIFACISA

Palavras-chave:

Eutanásia, Tribunal do Júri, Pêndulo judicial, Morte consentida

Resumo

O presente artigo utiliza o caso de Geraldo Rodrigues de Oliveira como mote para discutir sobre a análise da eutanásia no Brasil. Há grave conflito entre os valores sociais e o que a norma prevê em relação à eutanásia. Enquanto a legislação proíbe a prática eutanásica, no caso em análise, foi observado que os jurados entenderam que a prática pode ser motivada e isenta de responsabilização penal. Esse aparente conflito entre jurados e a norma gera uma repressão pendular da eutanásia, uma vez que a formação combinatória dos membros do júri terá o condão de condenar ou absolver o acusado. A partir desse caso, propõe-se uma reanálise da eutanásia, notadamente para reconhecê-la como um direito, de modo que seja regulamentada a eutanásia e não um objeto de construção precário e cuja condenação venha a ser casuísta.

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Biografia do Autor

Igor de Lucena Mascarenhas, UNIFACISA

Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista em Direito Civil Constitucional pela Universidade Federal da Paraíba. Professor do Centro Universitário UNIFACISA e do Centro Universitário. Membro do Instituto Perspectivas e Desafios de Humanização do Direito Civil Constitucional (IDCC). Membro do Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE). Advogado. E-mail: imascarenhas@mbrp.adv.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8269373824288693.

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Publicado

2019-09-09

Como Citar

MASCARENHAS, Igor de Lucena. A prática da eutanásia às margens da legislação: a lei condena e os jurados promovem a loteria jurídica. Civilistica.com, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 1–16, 2019. Disponível em: https://civilistica.emnuvens.com.br/redc/article/view/436. Acesso em: 10 mar. 2025.

Edição

Seção

Doutrina contemporânea