Comentários ao acórdão n.º 225/2018 do Tribunal Constitucional português e ao novo regime previsto na Lei de Procriação Medicamente Assistida (com alterações dadas pela Lei n.º 48/2019, de 8 de julho): uma análise crítica ao problema do anonimato do doado
Palavras-chave:
Procriação medicamente assistida heteróloga; PMA; doação de gametas; anonimato do doador; conhecimento das origens genéticas, PMA, Doação de gametas, Anonimato do doador, Conhecimento das origens genéticasResumo
Analisa-se no presente estudo, a problemática envolvendo o anonimato dentro dos processos heterólogos, que utilizam do contributo genético de terceiros doadores. Concretamente, questionamos se o surgimento de um direito fundamental ao conhecimento das origens genéticas implica, necessariamente, numa obrigatoriedade constitucional de regimes jurídicos mais liberais, que permitam o conhecimento da identidade desses intervenientes no processo reprodutivo, como quer fazer crer o Tribunal Constitucional português, no julgamento do acórdão n.º 225/2018. Oportunamente, aproveitamos a discussão para tecer algumas considerações críticas sobre o novo regime de anonimato estabelecido pela Lei n.º 48/2019, de 8 de julho.
Downloads
Referências
AGUIAR, Monica. Direito à filiação e bioética. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales, 2ª ed. em espanhol, trad. Carlos Bernal Pulido. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2008.
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na constituição portuguesa de 1976, 5ª ed. Coimbra: Almedina, 2012.
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito e bioética. In: Direito da Saúde e Bioética, Lisboa: Lex Edições Jurídicas, 1991, p. 09- 38.
ASCENSÃO, José de Oliveira. Procriação assistida e Direito. In: Estudos em homenagem ao Professor Doutor Pedro Soares Martínez, vol. 1, Almedina, Coimbra, 1998, p. 645-676.
ASCENSÃO, José de Oliveira. A Lei n.º 32/06, sobre procriação medicamente assistida, Separata da Revista da Ordem dos Advogados, ano 67, n.º 3, 2007, p. 977-1006.
BARBAS, Stela Marcos de Almeida Neves Barbas. Direito ao patrimônio genético. Coimbra: Almedina, 1998.
BLAUWHOF, Richard. A determinação e a impugnação da paternidade na Holanda, Lex Familiae: Revista Portuguesa de Direito da Família, Coimbra: Coimbra Editora, ano 3, n.º 5, 2006, p. 19-30.
CAMPOS, Diogo Leite de. A procriação medicamente assistida heteróloga e o sigilo sobre o dador - ou a omnipotência do sujeito. In: ASCENSÃO, José de Oliveira (coord.). Estudos de direito da bioética, vol. 2, Coimbra, 2008, p. 73-86.
CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito, 2ª ed. em português, trad. A. Menezes Cordeiro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.
CANARIS, Claus-Wilhelm. Direitos Fundamentais e Direito Privado, trad. para o português por Ingo Wolfgang Sarlet e Paulo Mota Pinto, 4.ª reimpr. Coimbra: Almedina, 2003.
CANOTILHO, J.J. Gomes e MOREIRA, Vital. A constituição da república portuguesa anotada, vol. 1, 4.ª ed. rev. Coimbra: Coimbra Editora, 2007.
COHEN, Gleen, COAN, Travis et alli. Sperm donor anonymity and compensation: an experimente with American sperm donos. Journal of Law and the Biosciences, vol. 3, n.º 3, 2016, p. 468-488.
CORTE-REAL, Carlos Pamplona. Os efeitos familiares e sucessórios da procriação medicamente assistida (P.M.A.). In: ASCENSÃO, José de Oliveira (coord.). Estudos de Direito da Bioética, Coimbra: Almedina, 2005, p. 93-112.
CORTE-REAL, Carlos Pamplona e PEREIRA, José Silva. Direito da Família: tópicos para uma reflexão crítica, 2.ª ed. atual. Lisboa: AAFDL, 2011.
DANIELS, Ken e LALOS, Othon. The Swedish insemination act and the availability of donos, Human Reproduction, vol. 10, n.º 7, 1995, p. 1871-1874.
DANTAS, Eduardo. Direito médico, 3.ª ed., Rio de Janeiro: GZ Editora, 2014.
DE BONE, Leonardo Castro de. O direito a procriar por técnicas laboratoriais de reprodução: considerações e restrições legais. Coimbra: Almedina, 2023.
DEPARTMENT OF HEALTH AND SOCIAL CARE. Quality and safety of organs, tissues and cells if there’s no Brexit deal, disponível em: https://www.gov.uk/, acesso em 11/01/2023, setembro de 2018, n.p.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 12ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.
D'ONORIO, Joël-Benoît et al. La vie prénatale: biologie, morale et droit. Paris: Téqui, 1986.
DUARTE, Tiago. In vitro veritas? A procriação medicamente assistida na constituição e na lei. Coimbra: Almedina, 2003.
DWORKIN, Ronald. Life’s domination: an argument about abortion and euthanasia. New York: Alfred A. Knopf, 1993.
DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério, 1ª ed. em português, trad. Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
EGÍDIO, Mariana Melo, Inseminação artificial heteróloga, anonimato do dador e direito ao conhecimento das origens genéticas: análise de jurisprudência constitucional. In: CORDEIRO, António Menezes; FERREIRA, Eduardo Paz; GOMES, M. Januário da Costa; e PINHEIRO, Jorge Duarte (orgs.). Estudos em homenagem ao Professor Doutor Carlos Pamplona Corte-Real, Coimbra: Almedina, 2016, p. 203-231.
ERIN, Chales e HARRIS, John. Surrogacy, Baillière's Clinical Obstetrics and Gynaecology, vol. 5, n.º 3, (setembro 1991), p. 611-635.
EXPRESSO. Doação de espermatozoides e de óvulos cai a pique, disponível em: https://expresso.pt/, acesso em: 20/10/2022, fevereiro de 2021, n.p.
EZRA, Ovadia. The withdrawal of rights: rights from a different perspective. Boston: Springer, 2002.
FARIAS, Cristiano Chaves de e ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Famílias, 9ª ed. Bahia: JusPodivm, 2016.
HODSON, Nathan e PARKER, Joshua. The ethical case for non-directed postmortem sperm donation, Journal of Medical Ethics, n.º 46, 2020, p. 489-492.
IMRIE, Susan e JADVA, Vasanti. The long-term experiences of surrogates: relationships and contact with surrogacy families in genetic and gestational surrogacy arrangements, Reproductive BioMedicine Online, vol. 29, n.º 4, 2014, p. 424-435.
KIREJCZYK, Marta; BERKEL, Dymphie Van; e SWIERSTRA, Tsjalling. Nieuwe vortplanting: afscheid van de ooievaar. Den Haag: Rathenau Instituut, 2001, disponível em: https://www.researchgate.net/, acesso em: 14/02/2019.
LOUREIRO, João Carlos Gonçalves. Filho(s) de um gâmeta menor? Procriação medicamente assistida heteróloga, Lex Medicinae: Revista Portuguesa de Direito da Saúde, ano 3, n.º 6, Coimbra Editora, Coimbra, 2006, p. 5-48.
LOUREIRO, João Carlos Gonçalves. O nosso pai é o dador n.º xxx: a questão do anonimato dos dadores de gâmetas na procriação medicamente assistida, Lex Medicinae: Revista Portuguesa de Direito da Saúde, ano 7, n.º 13, Coimbra: Coimbra Editora, 2010, p. 5-42.
MALUF, Adriana Dabus. Curso de Bioética e Biodireito, 4.ª ed. São Paulo: Almedina, 2020.
MEULDERS-KLEIN, Marie-Therese. Le droit de l'enfant face au droit a l'enfant et les procreations medicalement assistées, Revue trimestrielle de droit civil, ano 87, n.º 4, 1988, p. 645-672.
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional, tomo 4, 3.ª ed. rev. e atual. Coimbra: Coimbra Editora, 2000.
MIRANDA, Jorge e MEDEIROS, Rui. Constituição portuguesa anotada, tomo 1. Coimbra: Coimbra Editora, 2005.
MOMO, Amilcar Machado, O conteúdo essencial dos direitos fundamentais como núcleo resistente à ponderação. In: CANAS, Vitalino (coord.). Harmonização e ponderação: uma perspectiva comparada entre Portugal e Brasil. Lisboa: AAFDL, 2020, p. 101-153.
OBSERVADOR. Mais do que duplicou o número de mulheres à espera de dadores para poderem ser mães, disponível em: https://observador.pt/, acesso em: 20/10/2022, agosto de 2019, n.p.
OLIVEIRA, Guilherme de. Aspectos jurídicos da procriação assistida. In: Temas de Direito da Medicina I, Coimbra: Coimbra Editora, 1999, p. 05-30.
OLIVEIRA, Guilherme de. Beneficiários da procriação medicamente assistida. In: Temas de Direito da Medicina I. Coimbra: Coimbra Editora, 1999, p. 31-58.
OLIVEIRA, Guilherme de. Critério Jurídico da Paternidade. Coimbra: Almedina, reimpressão, 2003.
OLIVEIRA, Guilherme de. Caducidade das ações de investigação. Lex Familiae, Revista Portuguesa de Direito de Família, Coimbra: Coimbra Editora, 2004, p. 7-13.
O´REILLY, Daria, BOWEN, James M. et alli. Feasibility of an altruistic sperm donation program in Canada: results from a population-based model. Reproductive Health, vol. 14, n.º 8, 2017, n.p., disponível em: https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/, acesso em 16/01/2023.
OTERO, Paulo. Personalidade e identidade pessoal e genética do ser humano: um perfil constitucional da bioética. Coimbra: Almedina, 1999.
PEREIRA, Margarida Silva. Direito da Família. Lisboa: AAFDL, 2018.
PINHEIRO, Jorge Duarte. Direito da Família Contemporâneo, 6.ª ed. Lisboa: AAFDL, 2018.
PUBLICO. Especialistas de medicina de reprodução lançam campanha que apela à doação de óvulos e espermatozoides, disponível em: https://www.publico.pt/, acesso em: 20/10/2022, março de 2019, n.p.
QUEIROZ, Juliane Fernandes. Paternidade: aspectos jurídicos e técnicas de inseminação artificial - Doutrina e legislação. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.
RAPOSO, Vera Lúcia. Direito à imortalidade: o exercício de direitos reprodutivos mediante técnicas de reprodução assistida e o estatuto jurídico do embrião in vitro. Coimbra: Almedina, 2014.
REIS, Rafael Vale e. O Direito ao conhecimento das origens genéticas. Coimbra: Coimbra Editora, 2008.
RIBEIRO, Joaquim de Sousa. Procriação assistida: questões jurídicas, Colectânea de Jurisprudência, ano 18, tomo 4, 1993, p. 7-13.
RIBEIRO, Joaquim de Sousa. Breve análise de duas questões problemáticas: o direito ao arrependimento da gestante de substituição e o anonimato dos dadores. In: ANTUNES, Maria João e SILVESTRE, Margarida (coords.). Que futuro para a gestação de substituição em Portugal: Colóquio internacional, 1.ª ed., Coimbra: Instituto Jurídico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 2018, p. 25-42.
RICHARDS, Martin. Assisted reproduction and parental relationships. In: BAINHAM, Andrew; LINDLEY, Bridget; RICHARDS, Martin; e TRINDER, Liz (edts.). Children and their families: contact rights and welfare. Oxford: Hart Publishing, 2003, pp. 301–312.
ROBERTSON, John. Children of choice: freedom and the new reproductive technologies. Princeton: Princeton University Press, 1994.
SERNA MEROÑO, Encarna. Reflexiones en torno a la maternidad subragada. In: MOTA, Helena e GUIMARÃES, Maria Raquel (coords.). Autonomia e heteronomia no Direito da Família e no Direito das Sucessões, 1ª ed., Coimbra: Almedina, 2016, p. 807-821.
TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil, 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
TVI24. Banco público de gâmetas não recebeu nenhuma dádiva de espermatozoides em 2020, disponível em: https://tvi24.iol.pt/, acesso em: 20/10/2022, fevereiro de 2021, n.p.
VELTE, Kyle. Egging on lesbian maternity: the legal implications of tri-gametic in vitro fertilization, The American University Journal of Gender, Social Policy & the Law, vol. 7, n.º 3, 1999, p. 431-464.
VILELLA, Felipe et al. Hsa-miR-30d, secreted by the human endometrium, is taken up by the pre-implantation embryo and might modify its transcriptome, Development, vol. 142, n.º 18, 2015, p. 3210-3221.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Leonardo Castro de Bone

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.