Enquadramentos jurídicos do corpo: deslocamentos entre objetos e subjetividades

Autores

  • Adriana Espíndola Corrêa Universidade Federal do Paraná
  • Anderson Marcos dos Santos Universidade Positivo

Palavras-chave:

Estatuto jurídico do corpo, Autodeterminação corporal, Corpos, identidades e subjetividades

Resumo

Este trabalho traça um delineamento teórico do estatuto jurídico do corpo na modernidade jurídica ocidental e de suas transformações, associadas à aceleração tecnocientífica. A metodologia utilizada é a revisão bibliográfica da construção jurídica do corpo, com base na literatura jurídica e de áreas afins. O corpo, como objeto de regulação jurídica, não é tomado como um dado material, natural e orgânico, mas sim como construção social, cultural e política. As diversas representações do corpo no direito revelam sua ambiguidade, visto que sua qualificação jurídica oscila entre as categorias de pessoa e coisa. As respostas jurídicas à aceleração tecnocientífica aprofundam essa ambivalência do corpo, ao apreendê-lo como objeto da autodeterminação pessoal, sob o regime dos direitos da personalidade. Ao mesmo tempo, sob influxo de processos culturais e políticos, os corpos assumem, mais recentemente, também, o papel de materializar os sujeitos e mobilizar demandas políticas por direitos. O estudo apresentado neste artigo, portanto, aponta para outras vias de leitura, que colocam em disputa o discurso jurídico sobre o corpo, não mais concebido somente como objeto de relações jurídicas, pois passa a ser, também, locus político de afirmação de identidades e subjetividades múltiplas.

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Biografia do Autor

Adriana Espíndola Corrêa, Universidade Federal do Paraná

Professora Ajunta de Direito Civil da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná. Doutora e mestra em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná. Pesquisa Pós-doutoral na Université de Strasbourg, França. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Biotec - Direito, Biotecnologia e Sociedade registrado no CNPQ e do Projeto de Pesquisa “Enquadramentos jurídicos do corpo nas decisões judiciais dos Tribunais Superiores no Brasil”.

Anderson Marcos dos Santos, Universidade Positivo

Professor de Direito na graduação e no Curso de Mestrado em Direito da Universidade Positivo. Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas. Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná. 

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Publicado

2024-08-18

Como Citar

CORRÊA, Adriana Espíndola; SANTOS, Anderson Marcos dos. Enquadramentos jurídicos do corpo: deslocamentos entre objetos e subjetividades. Civilistica.com, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 1–26, 2024. Disponível em: https://civilistica.emnuvens.com.br/redc/article/view/1004. Acesso em: 5 dez. 2024.

Edição

Seção

Doutrina contemporânea