Quem é o representante legítimo do paciente incapaz de manifestar sua vontade?
Palavras-chave:
Representante legal, Legítimo representante, Incapacidade, Infecções por coronavírusResumo
O presente artigo tem como objetivo debater as diferenças entre os conceitos de representante legal e representante legítimo do paciente nos casos de impossibilidade de manifestação de vontade por conta de acometimento grave por infecção pelo vírus SARS-CoV-2. Para tanto, utilizou-se de metodologia qualitativa, de natureza descritiva e exploratória, com revisão bibliográfica e documental. Os resultados indicam que o conceito de representante legal é definido pelo Código Civil (CC), pelo Código de Processo Civil (CPC) e pela Lei n˚ 13.143/2015. Já o conceito de representante legítimo padece de uma conceituação bioética e traduz-se, atualmente, em um vazio regulamentar ou um espaço de limbo no campo médico: ninguém define o conceito e, portanto, ninguém o utiliza. Conclui-se que há diferenças qualitativas que abrangem a competência e a atribuição entre os dois estatutos e que o Estado, representado especialmente pelos Conselhos de Classe, Sociedades de Especialidades Médicas e Entidades Bioéticas, deve suprir a lacuna conceitual do representante legítimo a fim de minorar conflitos entre médicos, pacientes e familiares, harmonizar condutas clínicas e minorar níveis de judicialização em saúde no país.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Vitor. O alcance da proteção do nascituro no direito brasileiro em face da revolução biotecnológica. In: BARBOZA, Heloisa Helena; LEAL, Livia Teixeira; ALMEIDA, Vitor (Coord.). Biodireito: tutela jurídica das dimensões da vida. Indaiatuba, SP: Editora Foco, 2021.
APPLEBY, John. What is happening to non-covid deaths? BMJ, 2020. <https://doi.org/10.1136/bmj.m1607>. Disponível em: <https://www.bmj.com/content/369/ bmj.m1607/rapid-responses>. Acesso em: 13.3.2021.
BEAUCHAMP, Tom L.; CHILDRESS, James F. Princípio de ética biomédica. Tradução: Luciana Pudenzi. 3ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013.
BI, Qifang et al. Epidemiology and transmission of COVID-19 in 391 cases and 1286 of their close contacts in Shenzhen, China: a retrospective cohort study. The Lancet, 2020. <https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30287-5>. Disponível em: <https://www.thelancet.com/journals/ laninf/article/PIIS1473-3099(20)30287-5/fulltext>. Acesso em: 13.3.2021.
CARSANA, Luca et al. Pulmonary post-mortem findings in a series of COVID-19 cases from northern Italy: a two-centre descriptive study. Lancet Infect Dis., v. 20, n. 10, p. 1135-1140, 2020. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32526193/>. Acesso em: 13.3.2021.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução n 2217/2018 - Código de Ética Médica. Disponível em: <https://portal.cfm.org.br/images/PDF/cem2019.pdf>. Acesso em: 13.3.2021.
COPI, Lygia Maria. Entre representação e autonomia: o exercício de direitos da personalidade por crianças e adolescentes. In: TEPEDINO, Gustavo et al. (Coord.). Anais do VI Congresso do Instituto Brasileiro de Direito Civil. Belo Horizonte: Fórum, 2019. p. 125-138. E-book. ISBN 978-85-450-0591-9.
DADALTO, Luciana; TUPINAMBAS, Unai; GRECO, Dirceu Bartolomeu. Diretivas antecipadas de vontade: um modelo brasileiro. Revista Bioética. Brasília, v. 21, n. 3, p. 463-476, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-80422013000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 13.3.2021.
FACHIN, Milena Girardi. PAULINI, Umberto. Problematizando a eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre particulares: ainda e sempre sobre a constitucionalização do Direito Civil. In: TEPEDINO, Gustavo. FACHIN, Edson. Diálogos sobre direito civil – volume II. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
KIM Scott; APPELBAUM Paul; JESTE, Dilip; OLIN, Jason Todd. Proxy and surrogate consent in geriatric neuropsychiatric research: update and recommendations. Am J Psychiatry, v. 161, n. 5, p. 777-779, 2004. Disponível em: <https://doi.org/10.1176/appi.ajp.161.5.797>. Acesso em: 13.3.2021.
LEITE, Ana Paula Parra; CONSALTER, Zilda Mara. A tomada de decisão apoiada de incapazes e a segurança dos negócios jurídicos. In: PAIANO, Daniela Braga; ESPOLADOR, Rita de Cássia Resquetti Tarifa (Coords.). Relações Jurídicas Familiares sob uma ótica contemporânea – Vol. II. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2019.
MENDES, Plínio Duarte et al. Distúrbios da consciência humana – Parte 2 de 3: a abordagem dos enfermos em coma. Rev Neurocienc, v. 20, n. 4, p.576-583, 2012. Disponível em: <http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2012/RN2004/revisao%2020%2004/674%20revisao%20pt02.pdf>. Acesso em: 13.3.2021.
PEREIRA, André Gonçalo Dias. O consentimento informado na relação médico-paciente: estudos em direito civil. Coimbra: Editora Coimbra, 2004.
RAYMUNDO, Marcia Mocellin; GOLDIM, José Roberto. Do consentimento por procuração à autorização por representação. Revista Bioética, v. 15, n. 1, p. 83-99, 2007. Disponível em: <http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/33>. Acesso em: 13.3.2021.
SCHAEFER, Fernanda. Autonomia do paciente: desafios para o Direito e para a Bioética. Consultor Jurídico. Publicado em 13 fev 2021. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2021-fev-13/schaefer-desafios-direito-bioetica-seculo-21>. Acesso em: 13.3.2021.
SCHIOCCHET, Taysa; ARAGÃO, Suéllyn Mattos de. A regulação do CFM e os desafios na aplicabilidade de Soft Law em casos de terminalidade. Revista Opinião Jurídica, v. 19, n. 30, p. 1-34. Fortaleza: jan./abr. 2021. Disponível em: <https://periodicos.unichristus.edu.br/ opiniaojuridica/article/view/3309>. Acesso em: 13.3.2021.
TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. 3ª ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
YOUNG, Iris Marion. Representação Política, Identidade e Minorias. Disponível em: <https://goo.gl/r4VSSc>. Acesso em: 13.3.2021.
ZUARDI, Antonio Waldo; LOUREIRO, Sonia Regina. Semiologia psiquiátrica. Medicina (Ribeirão Preto), v. 29, n. 1, p. 44-53, 1996. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rmrp/ article/view/711>. Acesso em: 13.3.2021.