A “paternidade ativa” como perspectiva no direito de família do século XXI: a evolução legislativa como elemento de superação do conceito de "pai provedor" sob a ótica das desigualdades sociais

Autores

  • Fausto Amador Alves Neto UEMG
  • Thalles Ricardo Alciati Valim UEMG
  • Jeovan Alves dos Santos UEMG

Palavras-chave:

Paternidade ativa, Afetividade, Direito de família contemporâneo

Resumo

A paternidade ativa é um paradigma que busca reformular o papel tradicional do homem na família. Antigamente, o homem era visto como o provedor financeiro, enquanto a mulher assumia a responsabilidade pela criação e educação dos filhos. No entanto, com o advento da Constituição Federal de 1988, princípios como dignidade humana, igualdade na chefia familiar e proteção integral de crianças e adolescentes promoveram uma mudança significativa. Hoje, espera-se que os homens participem ativamente na criação dos filhos, compartilhando responsabilidades como alimentação, educação e cuidados emocionais. Essa transformação desmistifica a ideia de que o pai é apenas o provedor e reconhece o direito de viver o afeto em sua essência. No entanto, as desigualdades sociais ainda influenciam essa participação. Nesse sentido, a presente pesquisa objetivou analisar o instituto da paternidade ativa e responsável como um paradigma de mudança de comportamento dos homens em relação à criação dos filhos a partir de alterações socioculturais e legislativas. Recorreu-se, ainda, a estudos interdisciplinares que apontavam para uma mudança de comportamento masculino em relação às responsabilidades paternas e identificavam a importância desse perfil ativo para formação de crianças e adolescentes. A metodologia adotada foi pautada numa pesquisa bibliográfica-documental com abordagem qualitativa. Concluiu-se que há um novo paradigma para a participação de pais na criação e educação dos filhos, desmistificando a antiga ideia de que pai apenas é o provedor, dando-se espaço à paternidade responsável não apenas como um dever constitucional, mas como um direito de viver o afeto em sua essência. Todavia, há obstáculos à implementação uniforme e isonômica da paternidade ativa, visto que as desigualdades sociais são determinantes no que tange à participação na vida dos filhos. Por essa razão, o estabelecimento de políticas públicas e nova legislação devem passar necessariamente por uma análise interseccional de marcadores de subordinação que aprofundam as desigualdades sociais.

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Biografia do Autor

Fausto Amador Alves Neto, UEMG

Advogado. Doutor e Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Especialista em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Estácio de Sá. Graduado em Direito pela FEIT/UEMG. Docente efetivo do Curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade Ituiutaba. Pesquisador Produtividade da UEMG – PQ/UEMG. Líder do GEPFAM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Direito das Famílias. E-mail: fausto.neto@uemg.br.

Thalles Ricardo Alciati Valim, UEMG

Professor da Universidade do Estado de Minas Gerais. Doutor e Mestre em Direito Civil pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Direito e Prática Contratuais pela Université de Lyon. Líder do Grupo de Pesquisa “Núcleo de Estudos em Responsabilidade Civil” (NERC). Membro da Associação Mineira de Professores de Direito Civil (AMPDIC). E-mail: thalles.valim@uemg.br.

Jeovan Alves dos Santos, UEMG

Discente do Curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade Ituiutaba. E-mail: jeovan.1593244@discente.uemg.br.

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Publicado

2025-09-23

Como Citar

ALVES NETO, Fausto Amador; VALIM, Thalles Ricardo Alciati; SANTOS, Jeovan Alves dos. A “paternidade ativa” como perspectiva no direito de família do século XXI: a evolução legislativa como elemento de superação do conceito de "pai provedor" sob a ótica das desigualdades sociais. Civilistica.com, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 1–22, 2025. Disponível em: https://civilistica.emnuvens.com.br/redc/article/view/1023. Acesso em: 26 set. 2025.

Edição

Seção

Doutrina contemporânea